Embaixador tenta expor idéias do País nos
EUA
Plano de Barbosa é difundir
programas no meio
acadêmico e entre
formadores de opinião
PAULO SOTERO
Correspondente
WASHINGTON - Estabelecer uma presença
do
Brasil, hoje quase inexistente, nos meios acadêmicos, nos
centros de pesquisas e em outros foros de formadores de
opinião nos Estados Unidos, esteve nos planos de todos
os
embaixadores brasileiros que passaram por Washington
desde a volta do governo civil a Brasília, em 1985. Mas
a
idéia nunca saiu do papel. As crises periódicas
no Brasil,
o provincianismo da classe dirigente e a crônica falta
de
dinheiro frustraram todos os planos.
Na verdade, até a criação,
há dois anos, de uma
cadeira de estudos brasileiros na Universidade de
Stanford, e de uma cátedra semelhante em Harvard - que
será estabelecida em breve com uma doção
do empresário
Jorge Paulo Lehman -, o espaço do Brasil no mundo
acadêmico americano vinha se reduzindo. O Centro de
Estudos Brasileiros da Escola de Estudos Internacionais
Avançados da Universidade Johns Hopkins, em
Washington, criado nos anos 70, fechou as portas depois
das moratórias da dívida externa de 1986 e 1987.
E a
primeira safra de brasilianistas, formada na década de
60,
não se renovou.
Há pouco mais de dois meses no cargo,
o novo
embaixador do Brasil em Washington, Rubens Barbosa,
tem um plano ambicioso para atacar o problema. Com
propostas já prontas, nas próximas semanas ele
começará
a pedir dinheiro a grandes empresas brasileiras com
interesse no mercado americano e a companhias dos EUA
com investimentos no Brasil para três iniciativas: a
criação de um Centro de Informação
do Brasil em
Washington, para atender a empresários; o
estabelecimento de um Centro de Estudos Brasileiros da
Universidade de Columbia, em Nova York; e a introdução
de programas brasileiros nos chamados think tanks (poços
de idéias) - os centros pesquisas como a Fundação
Brookings, o Centro Woodrow Wilson e Centro de
Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), em
Washington. Essas instituições congregam acadêmicos,
ex-altos funcionários de administrações
passadas -
aposentados ou à espera de uma volta ao poder -, e
funcionam como foros independentes de debates dos temas
de interesse dos EUA. Paralelamente, Barbosa quer
convencer alguns Estados ou grandes cidades americanas
a incluir o estudo do País no currículo de seus
cursos
secundários.
"A idéia não é atingir
os americanos em geral, mas
grupos específicos, como os parlamentares, empresários,
formadores de opinião das universidades, dos centros de
pesquisas e meios de comunicação", disse Barbosa,
ao
Estado. "Os EUA são o país que mais cresce no mundo,
que mais investe no Brasil", observou. "É,
individualmente, o principal destino das nossas
exportações, e também onde sofremos o maior
número de
ações protecionistas, mas o País, praticamente,
não existe
nos foros de pesquisa e debate."
"Os `poços de idéias' são
hoje grandes produtores de
conhecimento no campo de políticas públicas na
área
externa, e é muito importante que o Brasil tenha uma
presença bem definida neles", justificou o embaixador.
"Eles exercem influência no processo decisório
governamental e na formação de consensos entre
os
diversos setores da sociedade, pois operam como
ordenadores de interesses e contribuem para a construção
de agendas coerentes e a formulação de conceitos,
de
política."
Custos - O custos estimados para a criação
de
programas brasileiros na Brookings, no Wilson Center e
no CSIC por um período de três anos, é de
US$ 1 milhão,
em cada instituição. Pelos planos da embaixada,
o
governo brasileiro contribuiria com 10%. Uma vez
criados, esses programas suplementariam duas outras
iniciativas independentes. O Diálogo Interamericano, um
pequeno `poço de idéias' que tem a peculiaridade
de ter
Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva
entre seus fundadores, já conseguiu fundos para iniciar,
no
ano que vem, um programa voltado para o Brasil e o
México. Há ainda o Instituto de Temas Brasileiros
(IBI),
da Escola de Administração de Empresas da Universidade
de George Washington, criado há seis anos. Fundado e
comandado pelo ex-diplomata americano James Ferrer,
que dirigiu a Divisão do Brasil do Departamento de
Estado, e número dois da embaixada dos EUA em
Brasília, o IBI opera o bem-sucedido Projeto Minerva,
que leva a Washington, duas vezes por ano, grupos de
cerca de 20 funcionários municipais, estaduais e federais
para um curso de um semestre sobre a sociedade, o
governo e as instituições americanas.
Barbosa vai pedir o apoio das empresas brasileiras
que exportam para os EUA especialmente para a criação
do Centro de Informação do Brasil - BIC, na sigla
em
inglês. "O objetivo maior é desenvolver, em base
permanente e sistemática, iniciativas que projetem uma
imagem positiva do Brasil nos EUA, neutralizem
percepções negativas da realidade brasileira em
todas as
áreas e promovam o País", disse ele. Para ajudar
a mapear
essas ações, o Itamaraty obteve um financiamento
do
Banco Internamericano e encomendou uma pesquisa sobre
percepções a respeito do Brasil nos EUA à
Universidade
de Chicago. O estudo deve estar pronto no início de 2000.
Segundo o embaixador, o centro, que daria apoio
a
empresários brasileiros em Washington, "funcionará
de
forma independente, mas em colaboração com a
embaixada". O plano é ter inicialmente três pessoas
que
atuará sob um conselho-diretor presidido pelo próprio
embaixador e composto por representantes das empresas
que contribuirem com o mínimo de US$ 1 milhão,
valor
necessário para lançar e manter o centro nos primeiros
três anos. O governo entraria com 10%.
A criação de um Centro de Estudos
Brasileiros na
Universidade de Columbia, a partir de setembro de 2000,
será o tema de conversas que Barbosa e o brazilianista
Albert Fishlow iniciarão, no mês que vem, com a
universidade. A iniciativa tem o apoio pessoal do
presidente Fernando Henrique Cardoso.
Obviamente, o sucesso da operação
não depende só
de dinheiro e do empenho dos interessados. A premissa do
plano de Barbosa é que Fernando Henrique conseguirá
o
apoio político necessário para completar as reformas
econômicas e consolidar a estabilidade, pois é isso
que
definirá a importância do País para os EUA
e o resto do
mundo. Sem isso, não haverá programa de estudos
ou
centro de informação capaz de mudar a percepção
dominante sobre o Brasil entre os americanos, que é,
aliás, a mesma que prevalece entre a maioria dos
brasileiros - a de uma nação incapaz de realizar
seu
enorme portencial. "Ninguém se interessa por
perdedores", atesta um diplomata.