Segunda-feira,
 13 de setembro de 1999   Estado de Sao Paulo

 Embaixador tenta expor idéias do País nos
 EUA

       Plano de Barbosa é difundir programas no meio
        acadêmico e entre formadores de opinião

     PAULO SOTERO

     Correspondente

     WASHINGTON - Estabelecer uma presença do
 Brasil, hoje quase inexistente, nos meios acadêmicos, nos
 centros de pesquisas e em outros foros de formadores de
 opinião nos Estados Unidos, esteve nos planos de todos os
 embaixadores brasileiros que passaram por Washington
 desde a volta do governo civil a Brasília, em 1985. Mas a
 idéia nunca saiu do papel. As crises periódicas no Brasil,
 o provincianismo da classe dirigente e a crônica falta de
 dinheiro frustraram todos os planos.

     Na verdade, até a criação, há dois anos, de uma
 cadeira de estudos brasileiros na Universidade de
 Stanford, e de uma cátedra semelhante em Harvard - que
 será estabelecida em breve com uma doção do empresário
 Jorge Paulo Lehman -, o espaço do Brasil no mundo
 acadêmico americano vinha se reduzindo. O Centro de
 Estudos Brasileiros da Escola de Estudos Internacionais
 Avançados da Universidade Johns Hopkins, em
 Washington, criado nos anos 70, fechou as portas depois
 das moratórias da dívida externa de 1986 e 1987. E a
 primeira safra de brasilianistas, formada na década de 60,
 não se renovou.

     Há pouco mais de dois meses no cargo, o novo
 embaixador do Brasil em Washington, Rubens Barbosa,
 tem um plano ambicioso para atacar o problema. Com
 propostas já prontas, nas próximas semanas ele começará
 a pedir dinheiro a grandes empresas brasileiras com
 interesse no mercado americano e a companhias dos EUA
 com investimentos no Brasil para três iniciativas: a
 criação de um Centro de Informação do Brasil em
 Washington, para atender a empresários; o
 estabelecimento de um Centro de Estudos Brasileiros da
 Universidade de Columbia, em Nova York; e a introdução
 de programas brasileiros nos chamados think tanks (poços
 de idéias) - os centros pesquisas como a Fundação
 Brookings, o Centro Woodrow Wilson e Centro de
 Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), em
 Washington. Essas instituições congregam acadêmicos,
 ex-altos funcionários de administrações passadas -
 aposentados ou à espera de uma volta ao poder -, e
 funcionam como foros independentes de debates dos temas
 de interesse dos EUA. Paralelamente, Barbosa quer
 convencer alguns Estados ou grandes cidades americanas
 a incluir o estudo do País no currículo de seus cursos
 secundários.

     "A idéia não é atingir os americanos em geral, mas
 grupos específicos, como os parlamentares, empresários,
 formadores de opinião das universidades, dos centros de
 pesquisas e meios de comunicação", disse Barbosa, ao
 Estado. "Os EUA são o país que mais cresce no mundo,
 que mais investe no Brasil", observou. "É,
 individualmente, o principal destino das nossas
 exportações, e também onde sofremos o maior número de
 ações protecionistas, mas o País, praticamente, não existe
 nos foros de pesquisa e debate."

     "Os `poços de idéias' são hoje grandes produtores de
 conhecimento no campo de políticas públicas na área
 externa, e é muito importante que o Brasil tenha uma
 presença bem definida neles", justificou o embaixador.
 "Eles exercem influência no processo decisório
 governamental e na formação de consensos entre os
 diversos setores da sociedade, pois operam como
 ordenadores de interesses e contribuem para a construção
 de agendas coerentes e a formulação de conceitos, de
 política."

     Custos - O custos estimados para a criação de
 programas brasileiros na Brookings, no Wilson Center e
 no CSIC por um período de três anos, é de US$ 1 milhão,
 em cada instituição. Pelos planos da embaixada, o
 governo brasileiro contribuiria com 10%. Uma vez
 criados, esses programas suplementariam duas outras
 iniciativas independentes. O Diálogo Interamericano, um
 pequeno `poço de idéias' que tem a peculiaridade de ter
 Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva
 entre seus fundadores, já conseguiu fundos para iniciar, no
 ano que vem, um programa voltado para o Brasil e o
 México. Há ainda o Instituto de Temas Brasileiros (IBI),
 da Escola de Administração de Empresas da Universidade
 de George Washington, criado há seis anos. Fundado e
 comandado pelo ex-diplomata americano James Ferrer,
 que dirigiu a Divisão do Brasil do Departamento de
 Estado, e número dois da embaixada dos EUA em
 Brasília, o IBI opera o bem-sucedido Projeto Minerva,
 que leva a Washington, duas vezes por ano, grupos de
 cerca de 20 funcionários municipais, estaduais e federais
 para um curso de um semestre sobre a sociedade, o
 governo e as instituições americanas.

     Barbosa vai pedir o apoio das empresas brasileiras
 que exportam para os EUA especialmente para a criação
 do Centro de Informação do Brasil - BIC, na sigla em
 inglês. "O objetivo maior é desenvolver, em base
 permanente e sistemática, iniciativas que projetem uma
 imagem positiva do Brasil nos EUA, neutralizem
 percepções negativas da realidade brasileira em todas as
 áreas e promovam o País", disse ele. Para ajudar a mapear
 essas ações, o Itamaraty obteve um financiamento do
 Banco Internamericano e encomendou uma pesquisa sobre
 percepções a respeito do Brasil nos EUA à Universidade
 de Chicago. O estudo deve estar pronto no início de 2000.

     Segundo o embaixador, o centro, que daria apoio a
 empresários brasileiros em Washington, "funcionará de
 forma independente, mas em colaboração com a
 embaixada". O plano é ter inicialmente três pessoas que
 atuará sob um conselho-diretor presidido pelo próprio
 embaixador e composto por representantes das empresas
 que contribuirem com o mínimo de US$ 1 milhão, valor
 necessário para lançar e manter o centro nos primeiros
 três anos. O governo entraria com 10%.

     A criação de um Centro de Estudos Brasileiros na
 Universidade de Columbia, a partir de setembro de 2000,
 será o tema de conversas que Barbosa e o brazilianista
 Albert Fishlow iniciarão, no mês que vem, com a
 universidade. A iniciativa tem o apoio pessoal do
 presidente Fernando Henrique Cardoso.

     Obviamente, o sucesso da operação não depende só
 de dinheiro e do empenho dos interessados. A premissa do
 plano de Barbosa é que Fernando Henrique conseguirá o
 apoio político necessário para completar as reformas
 econômicas e consolidar a estabilidade, pois é isso que
 definirá a importância do País para os EUA e o resto do
 mundo. Sem isso, não haverá programa de estudos ou
 centro de informação capaz de mudar a percepção
 dominante sobre o Brasil entre os americanos, que é,
 aliás, a mesma que prevalece entre a maioria dos
 brasileiros - a de uma nação incapaz de realizar seu
 enorme portencial. "Ninguém se interessa por
 perdedores", atesta um diplomata.